Cadernos do IUM N.º 60 - Inteligência Artificial: Estudos Pioneiros em Contexto Militar

Editorial

Estimados leitores,

Esta obra marca a primeira publicação dedicada exclusivamente à Inteligência Artificial (IA) no contexto militar, reunindo cinco estudos que refletem sobre a importância da sua integração estratégica. 

Face à ausência de uma estratégia nacional para a IA na Defesa, o primeiro estudo sugere a criação de uma estrutura de governação que monitore e promova o desenvolvimento de IA no setor. O segundo estudo explora a liderança do conhecimento e a incorporação de tecnologias de IA nas Forças Armadas Portuguesas, propondo 17 recomendações para uma exploração mais eficiente destas tecnologias em operações militares. 

O terceiro estudo investiga como a IA pode otimizar o processo de planeamento de operações da OTAN, especialmente nas Operações Especiais, ao automatizar tarefas analíticas complexas e integrar dados de várias fontes. No quarto estudo, a IA é analisada no contexto dos Sistemas de Informação Geográfica da Guarda Nacional Republicana, destacando o seu potencial para reforçar o policiamento preditivo e melhorar a gestão de recursos no combate ao crime. 

Por fim, o quinto estudo examina a aplicação de IA na prevenção de sinistralidade rodoviária em Portugal, com destaque para o projeto MOPREVIS da Universidade de Évora. Este estudo identifica quatro linhas de orientação estratégica para maximizar a utilização de IA na prevenção de acidentes rodoviários e no alerta precoce. 

Esta publicação pioneira oferece uma importante contribuição para o avanço da compreensão e implementação da IA no setor público, com um foco especial nas áreas da Segurança e Defesa. Destina-se a profissionais, académicos e decisores políticos que procuram explorar o potencial da IA para enfrentar os desafios e oportunidades no contexto militar e de segurança pública. 

Desejo-lhe uma proveitosa leitura!

Ana Esteves 
Tenente-coronel
Coordenadora editorial do CIDIUM

Artigos

Estudo 1 – Inteligência Artificial: Contributos para uma Estratégia na Área da Defesa

Resumo

A Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) e as organizações de defesa dos Aliados estão a implementar estratégias para o desenvolvimento, adoção e utilização da Inteligência Artificial (IA). Na área da Defesa, em Portugal, ainda não há iniciativas estratégicas para o desenvolvimento, adoção e utilização da IA. Este estudo tem o objetivo de identificar um conjunto de contributos para a definição duma estratégia que permita colmatar esta lacuna. Para desenvolver esta investigação adotou-se uma metodologia assente num processo de raciocínio dedutivo, recorrendo a uma estratégia mista, baseada no estudo de caso. A investigação começa por identificar os aliados da OTAN que se constituem como referências no âmbito da IA, os princípios e um modelo orientador para o desenvolvimento, adoção e utilização da IA na área da Defesa. Seguidamente, analisou a IA na área da Defesa em Portugal, verificando-se que se encontra num patamar de maturidade inicial. No final, são apresentados contributos para uma estratégia de IA na área da Defesa, que procura um nível otimizado de desenvolvimento, adoção e utilização da IA e que deverá ser prosseguida através da criação duma estrutura de governação dedicada com monitorização e controlo da execução dos objetivos estratégicos.

Palavras-chave

Inteligência artificial, maturidade em inteligência artificial, gestão estratégica.

Autor(es) (*)

Avatar Armando José Dias Correia
Avatar Jorge Manuel Nogueira Paiva
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Estudo 2 – Aplicação das Tecnologias de Inteligência Artificial em Operações Militares

Resumo

A liderança do conhecimento e definição de tendências de evolução para as tecnologias de Inteligência Artificial concentra-se, fundamentalmente, na sociedade civil. A forte convergência das comunidades big data, poder computacional e investigação em algoritmos de machine learning, e as dinâmicas daí resultantes, representam um desafio respeitante à Segurança e Defesa. Esta investigação teve, assim, como objetivo propor contributos para melhorar a exploração das tecnologias de IA em operações militares pelas Forças Armadas (FFAA) portuguesas, pautando-se, metodologicamente, por um raciocínio indutivo, uma estratégia qualitativa e um desenho de pesquisa tipo estudo de caso, e associadamente, nas análises documental e de conteúdo das entrevistas a 22 entidades do Ministério da Defesa Nacional (MDN), das FFAA e do meio académico e empresarial. Dos resultados, conclui-se que: o MDN e as FFAA estão envolvidos em projetos no âmbito da IA; a Base Tecnológica e Industrial de Defesa possui competências e experiência no desenvolvimento de soluções e respetiva incorporação tecnológica em IA; existe capacidade técnica nacional para que os processos/sistemas identificados como prioritários alcancem níveis de maturidade Technology Readiness Level superior a sete até ao final da década. Neste seguimento, foram elencadas 17 propostas de melhoria da supradita exploração de tecnologias de IA pelas FFAA.

Palavras-chave

Inteligência Artificial, Operações Militares

Autor(es) (*)

Avatar José Manuel dos Santos Coelho
Avatar Rui Jorge Fernandes Bettencourt
 15 | 15
Estudo 3 – O Papel das Tecnologias de Inteligência Artificial na Adaptação das Capacidades Militares às Ameaças Modernas – Contributos para o seu Emprego

Resumo

Este estudo foca-se nos potenciais contributos que a Inteligência Artificial pode oferecer para otimizar o Processo de Planeamento de Operações NATO no seio das Operações Especiais ao nível da componente. Emprega uma metodologia qualitativa, a pesquisa inclui análise documental e entrevistas semiestruturadas. Os resultados indicam vários desafios no Processo de Planeamento, incluindo a integração e análise de elevado volume de dados disperso em várias fontes, escassez de recursos e restrições de tempo. As tecnologias de Inteligência Artificial, particularmente Machine Learning, oferecem vantagens significativas automatizando tarefas analíticas complexas e integrando múltiplas fontes de dados, reduzindo assim o tempo e o pessoal necessário. O potencial da Inteligência Artificial para transformar operações militares é evidente na sua capacidade de fornecer análises em tempo real, criação de cenários preditivos e apoio à decisão. O estudo conclui que a implementação da Inteligência Artificial em determinados passos do processo de planeamento de operações, pode melhorar significativamente a eficiência.

Palavras-chave

Inteligência Artificial, Machine Learning, Processo de Planeamento de Operações, Operações Especiais, Otimização.

Autor(es) (*)

Avatar Bruno Aguiar Couto
Avatar Hugo Miguel Mansinho Barrote Rodrigues
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Estudo 4 – Aplicação da Inteligência Artificial ao Serviço da Função Policial

Resumo

A investigação tem como objeto de estudo a Inteligência Artificial aplicada aos Sistemas de Informação Geográfica na Guarda Nacional Republicana. A utilização das tecnologias de informação e comunicação tem vindo a promover uma alteração disruptiva na atuação policial, mormente na gestão e aplicação dos recursos no momento e local necessários. Assim, analisa-se o contributo da Inteligência Artificial na designada preditividade policial, fazendo uso dos Sistemas de Informação Geográfica para o desenho de um modelo concetual de cálculo do risco das diferentes tipologias criminais, pelo que este estudo apresenta interesse e utilidade para as Forças e Serviços de Segurança. Adotou-se uma abordagem multidisciplinar, aplicando-se o raciocínio indutivo, segundo uma estratégia de investigação qualitativa e como desenho de investigação o estudo de caso, realizando-se 20 entrevistas, sendo sete exploratórias e, as restantes, semiestruturadas de confirmação. Como principais contributos alcançados, salienta-se que o policiamento preditivo, utilizando a Inteligência Artificial, poderá alavancar o produto operacional. A Inteligência Artificial aplicada aos Sistemas de Informação Geográfica, em concreto aos Modelos de Risco do Terreno permitirá analisar o risco dos fenómenos criminais, capacitando uma melhor decisão e balanceamento proactivo de recursos da instituição para o seu combate.

Palavras-chave

Função Policial, Inteligência Artificial, Sistemas de Informação Geográfica.

Autor(es) (*)

Avatar José Fontes
Avatar Pedro Manuel Sequeira Estrela Moleirinho
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Estudo 5 – Prevenção e Alerta da Sinistralidade Rodoviária com o Contributo da Inteligência Artificial

Resumo

Na atualidade, a aplicação de sistemas baseados em inteligência artificial (IA) no combate à sinistralidade rodoviária já é uma realidade, apresentando resultados significativos. Em Portugal já foram dados os primeiros passos nesta área, principalmente através de projetos de investigação desenvolvidos por algumas Academias, dos quais se destaca o projeto da Universidade de Évora MOPREVIS. Partindo do argumento que a aplicação de metodologias de IA na construção de modelos preditivos potencia a prevenção e o alerta da sinistralidade rodoviária, afigurou-se pertinente analisar de que forma podem ser potenciados os contributos da IA no combate ao flagelo da sinistralidade rodoviária, usando como caso de estudo o modelo MOPREVIS. Para cumprir este desiderato, recorreu-se a um processo metodológico assente no raciocínio indutivo, materializado por uma estratégia de investigação mista, na qual se recorreu a técnicas de análise documental, inquéritos por entrevista e inquéritos por questionário, num desenho de pesquisa de estudo de caso. Foi possível concluir que a forma de potenciar os contributos da IA para a prevenção e alerta da sinistralidade rodoviária deve ser sustentada nas seguintes linhas de orientação estratégica: LOE1 - Assegurar qualidade e rigor; LOE2 - Automatizar; LOE3 - Desenvolver e diversificar; e LOE 4 - Cooperar e colaborar.

Palavras-chave

Alerta, inteligência artificial, MOPREVIS, prevenção, sinistralidade rodoviária.

Autor(es) (*)

Avatar Paulo Infante
Avatar Pedro Miguel Monteiro Valente
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(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.