Coleção Ares N.º 8 - Atas do Seminário "Portugal e as Campanhas de África: da imposição de soberania à Grande Guerra"

Editorial

O seminário “Portugal e as campanhas de África: da imposição de soberania à Grande Guerra” constituiu uma coorganização dos estabelecimentos de ensino superior universitário militar e tratou-se do primeiro encontro, no âmbito das Comemorações do Centenário da Primeira Guerra Mundial, levado a cabo nas instalações do IESM.

[...]

Certo de que um encontro desta natureza constituiu uma oportunidade única de enriquecimento comum, estou em crer que os objetivos delineados para o Seminário foram alcançados. A colocação de questões ao passado – que são sempre questões do presente – deverá ter propiciado algumas respostas e, certamente, terá suscitado novas questões, gerado diferentes hipóteses e sugerido outras vias de investigação.

Rui Manuel Xavier Fernandes Matias
Tenente-General

Artigos

Os Projetos Políticos de Unificação da Europa como Contraponto à Grande Guerra

Resumo

A primeira metade do século XX assistiu aos dois mais mortíferos conflitos bélicos da História da Humanidade. Porém, ambos os episódios apenas introduzem uma escala de destruição e de mortandade sem precedentes. Na realidade, ao longo dos séculos, apenas em curtos períodos a Europa conheceu tempos de paz e concórdia. Todavia, em contraponto com a guerra muitas foram as vozes daqueles que apelaram à paz e à união. É o recenseamento de alguns destes projetos que nos propomos concretizar neste trabalho.

Palavras-chave

Projetos pela Paz, Grande Guerra, História da Europa, Unificação da Europa, Federação Europeia.

Autor(es) (*)

Avatar Alexandre Figueiredo
 560 | 360
A Guarda Republicana de Lourenço Marques

Resumo

Em Moçambique a Guarda Republicana de Lourenço Marques foi responsável, a partir de 1914, pela segurança e policiamento de todas as áreas na região sul da colónia desempenhando missões típicas de uma Gendarmerie, tais como as de ocupação e de polícia militar do território, as de segurança interna e de ordem pública, as de polícia de emigração, para além de outros serviços de polícia sanitária e de caça, sendo ainda guarda-fiscal no interior e na fronteira com as colónias da África do Sul e da Rodésia. As unidades desta força estavam ainda preparadas para desempenhar operações de combate, segurança de colunas e reconhecimentos. Unidades da Guarda Republicana de Lourenço Marques, que era reconhecida como a melhor força militar existente em Moçambique, não só a mais bem treinada como aquela com maior capacidade de intervenção, participou nas campanhas contra os alemães, no norte de Moçambique, reforçando em 1916 as forças do Exército no Rovuma, tendo o Coronel Azambuja Martins, Chefe do Estado-Maior da 3.ª Expedição a Moçambique, testemunhado: “A 18 de Maio [1916] o Governador Geral [Álvaro Xavier de Castro] embarcou em Lourenço Marques para o Rovuma acompanhando os reforços que conseguira mobilizar na Colónia, formando uma companhia europeia de infantaria montada da Guarda Republicana de Lourenço Marques e uma companhia indígena da mesma unidade (a qual era considerada de elite, tendo todos os seus oficiais o curso da sua arma), … ” (MARTINS, Eduardo Azambuja (1935) A campanha de Moçambique. In Martins, Ferreira, dir. (1934-1935) Portugal na Grande Guerra. Lisboa: Ática. Vol. 2, pp. 147-148).

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, Guarda Republicana, Moçambique, Lourenço Marques.

Autor(es) (*)

Avatar Rui Moura
 558 | 376
O Oficial do Serviço de Estado-Maior no Período da Grande Guerra

Resumo

O Serviço de Estado-Maior foi instituído em 1899, sendo herdeiro do Corpo de Estado-Maior instituído em 1834. A Lei 26 de Maio de 1911, que visou a reforma do Exército após a implementação da República em 1910, manteve a mesma designação. O objetivo da comunicação é caraterizar do perfil do Oficial deste Serviço na Grande Guerra. Tendo crescido numa época conturbada, tanto política como economicamente, estes oficiais eram de origens citadinas, oriundos de famílias com a possibilidade de lhes permitir estudos, que assentavam praça no Exército, chegada a idade, com o intuito de se formarem como oficiais. Os oficiais que constituíam o Serviço de Estado-Maior recebiam formação específica para o desempenho das respetivas funções que, até 1890, ocorria no mesmo molde das restantes Armas do Exército, sendo um curso de base da Escola do Exército. A partir de 1891 passou a ser um curso complementar, mantendo-se como um Corpo distinto, mas abrindo a entrada a todas as Armas do Exército. O Serviço de Estado-Maior, durante a Grande Guerra, enquadrava-se com o perfil expectável para a época: aos seus oficiais eram atribuídas funções de destaque e responsabilidade, ligadas frequentemente ao planeamento de manobras e instrução, acabando por influenciar toda a instituição, ao mesmo tempo que beneficiavam de algumas vantagens no respeitante à carreira.

Palavras-chave

Grande Guerra, Serviço de Estado-Maior, Carreira Militar, Oficiais do Exército.

Autor(es) (*)

Avatar Fernando César de Oliveira Ribeiro
 516 | 346
Comandantes em África (1914-1918): uma Geração Infortuna

Resumo

A comunicação enquadra-se num projeto financiado pelo CINAMIL e que tem como tema “uma forma portuguesa de comando e liderança militar na Grande Guerra - África”. A sua pertinência advém do facto de neste período a situação que as unidades do Exército Português e os seus comandantes enfrentaram, logo no início das hostilidades, com a projeção para África na defesa da integridade dos territórios coloniais, ser completamente atípica pela introdução de duas novas realidades: um adversário técnica e taticamente superior em oposição aos empenhamentos em África das últimas décadas; um exército inoperante consequência da instabilidade político-social no panorama nacional. Pretende-se identificar o perfil sociológico dos oficiais comandantes das unidades mobilizadas para África entre 1914 e 1918 (capitães, majores e tenentes-coronéis, num total de cerca de 60) na procura das principais tendências em relação às origens sociais, à experiência profissional com particular destaque para a experiência de combate nas campanhas africanas do fim do século XIX e início do século XX; funções de comando e/ou estado-maior desempenhadas em território nacional e nas colónias; envolvimento político-partidário na implantação da república; eventuais funções desempenhadas em entidades civis no território nacional ou em missões no estrangeiro. A metodologia assenta na pesquisa a fontes primárias em que se destacam os processos individuais dos oficiais em questão (Arquivo Histórico Militar e Arquivo Geral do Exército), Ordens do Exército e outros despachos, bem como correspondência oficial. Eventuais contactos com descendentes dos oficiais na procura de informação “não-oficial” (memórias, lembranças, cadernos, etc.).

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, África, Angola, Comandantes.

Autor(es) (*)

Avatar Renato Afonso Gonçalves de Assis
 519 | 341
A Grande Guerra e a Medicina Em África: Na Senda de Novas Questões a à Procura de Novas Conclusões

Resumo

Mundialmente vivem-se os anos de evocação do Centenário da Primeira Guerra Mundial. Portugal possui o dever de recordar o conflito, não se circunscrevendo aos palcos europeus e aos anos ulteriores a 1916, pois, por essa altura, já tinha enviado centenas de expedicionários portugueses para Angola e Moçambique, com o objetivo de reforçar a soberania portuguesa naqueles territórios. Na senda destas novas questões e à procura de novas conclusões, encetámos em finais de 2013 uma investigação que procura conhecer melhor o Serviço de Saúde Médico Militar Português durante a Grande Guerra. Cedo denotámos que, para a época, os estudos internacionais dedicados à Medicina Militar se centram primordialmente na Europa, numa forte produção historiográfica que tende a excluir Portugal das discussões focadas nestas e em outras temáticas da História Social da Medicina. O presente artigo, ínfima parte de uma investigação em curso, pretende apenas alertar para algumas questões relativas à medicina militar portuguesa no teatro de operações africano, relembrando histórias, vivências e ecos memorialistas, e recordando a importância destas fontes de saber. Dessa forma, melhoraremos a compreensão do que foi a logística médico militar em campanha, em África e França, o que nos permitirá, num futuro breve, uma maior perceção do fenómeno da Grande Guerra em Portugal, com base na comparação dos teatros de operações, e sob o olhar da medicina militar.

Palavras-chave

Portugal, Grande Guerra, Medicina, África, Memória.

Autor(es) (*)

Avatar Margarida Portela
 522 | 350
A Perceção da Atrição no Planeamento Estratégico e Operacional na Primeira Guerra Mundial

Resumo

A Primeira Guerra Mundial forçou uma geração de líderes militares a readaptar a sua forma de pensar e planear a uma guerra de desgaste onde a primazia passou a ser a atrição. O Objetivo desta comunicação é apresentar as dificuldades desse processo adaptativo, quer ao nível do planeamento estratégico, quer ao nível da sua materialização no planeamento e conduta de operações, enquanto exemplo da adaptação de um aparelho militar a um conflito cuja natureza contraria os princípios que guiaram o seu próprio desenvolvimento.

Palavras-chave

Atrição, Primeira Guerra Mundial, Plano Schliefen, Perceção do Adversário.

Autor(es) (*)

Avatar Nuno Correia Neves
 554 | 361
O Pensamento Estratégico Português no Dealbar do Século XX

Resumo

A história do pensamento estratégico surge como um estudo que permite compreender, não só as dinâmicas propriamente estratégicas, mas como um instrumento para conhecer os anseios, interesses e formas de edificação de si próprias das sociedades que o produziram. Em suma, o pensamento estratégico permite conhecer e compreender as dinâmicas políticas internas e externas, os quadros geopolíticos e geoestratégicos que foram formulados e que enquadram as leituras do presente e os projetos futuros. A presente conferência analisará alguns dos autores e das obras mais relevantes do pensamento estratégico português na década que precedeu a eclosão da Grande Guerra. Com base nesta investigação estudar-se-á e procurar-se-á fazer uma interpretação, não só das características intrínsecas do pensamento estratégico, mas também da compreensão que os autores coevos tinham da realidade internacional e da realidade nacional, nomeadamente no que se refere às vulnerabilidades e às potencialidades de que Portugal dispunha à época. O estudo debruçar-se-á sobre obras de Raul Esteves, Pereira de Silva e Botelho de Sousa, entre outros, procurando igualmente dissecar as leituras comuns e as leituras distintas que cada um produzia da realidade em que Portugal se inseria, assim como sobre aquilo que considerava como parte do pensamento estratégico. Neste sentido, se desenvolverá no estudo uma parte dedicada às conceções estratégicas militares da Armada e do Exército.

Palavras-chave

Grande Guerra, Estratégia, Pensamento Estratégico, Grã-Bretanha, Portugal, Primeira República.

Autor(es) (*)

Avatar António Paulo Duarte
 553 | 350
Geopolítica da Alemanha na Primeira Guerra Mundial: o Caso do Sudeste Africano

Resumo

Este artigo pretende demonstrar em que consistia a Geopolítica da Alemanha na Primeira Guerra Mundial no espaço africano, focando-se sobretudo na Deutsch-Ostafrika (hoje Tanzânia, Ruanda e Burundi) e em Moçambique, e no interesse alemão e sua tentativa de anexar o Norte de Moçambique à Deutsch-Ostafrika que culminaria na Batalha de Negomano (1917). Procura-se igualmente evidenciar a importância do projeto alemão de Mittelafrika, como uma das linhas de atuação da Weltpolitik adotada em 1890 pela Alemanha de Wilhelm II, e com impacto direto no interesse alemão sobre Moçambique e sobre o espaço colonial português em África. O Projeto de Mittelafrika e o interesse por Moçambique resultaram da procura de Lebensraum em África, com uma orientação económica e cultural ainda hoje características da Política Externa Alemã.

Palavras-chave

Geopolítica, Alemanha, Sudeste Africano, Moçambique, Portugal, I Guerra Mundial.

Autor(es) (*)

Avatar Marisa Alexandra Santos Fernandes
 560 | 360
Estratégia Geopolítica do Império Alemão para Debilitar a Presença de Portugal em África antes da Primeira Guerra Mundial

Resumo

Realizando a análise dos padrões de cooperação/conflito entre as grandes potências antes da Primeira Guerra Mundial, John Mearsheimer salienta que durante os quarenta anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, as potências europeias cooperaram entre elas, mesmo se de forma muito limitada, o que não impediu, de resto, grandes divergências de interesses e eclosão de conflitos. Este foi o caso, certamente, do palco africano, onde as ambições da Alemanha e da Grã-Bretanha a respeito do império luso, não foram atenuadas por dois acordos secretos que repartiam entre Londres e Berlim as colonias portuguesas. De todas as nações que tinham presença no continente negro, Portugal era aquela que estava mais debilitada, tanto por problemas financeiros, como por aspetos políticos. Os últimos anos da Monarquia e os primeiros da República seriam, sem dúvida, pautados, por grande instabilidade. Tanto a Alemanha como a Grã--Bretanha pretendiam obter proveito deste debilitamento. Esta comunicação centrar-se-á, sobretudo, em analisar como o Império Alemão, utilizando as dificuldades de Portugal, gizou uma estratégia geopolítica que pretendia obter benefícios nos portos de Lourenço Marques, em Moçambique, e da Baía dos Tigres, em Angola, com o fim de fortalecer bases navais germânicas frente ao poderio naval britânico. Recordemos que até 1902- 1903 a Alemanha tinha sido um potencial “hegemon”, o que significava, entre outros, que o grau de riqueza de este país, a sua população, o seu poder militar, a sua tecnologia, ameaçavam dominar o sistema e destronar a Grã-Bretanha do seu posto nº 1 como potência mundial. Segundo Mearsheimer, o sistema europeu tinha sido caracterizado entre 1871 e 1902 por uma “balanced multipolarity”. No entanto, a partir de 1903, este equilíbrio deixou de existir para se converter numa “unbalanced multipolarity”. Veremos em especial, nesta palestra, como os portos estratégicos africanos sob soberania lusa, passariam a ser objeto de um agressivo jogo de interesses geopolíticos, em particular da Alemanha e Inglaterra, num contexto no qual se aproximava uma guerra mundial, na qual se considerava que o poder naval poderia vir a ser um fator decisivo.

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, Império Alemão, Colónias Portuguesas, Moçambique, Mittleafrika.

Autor(es) (*)

Avatar Gisela da Silva Guevara
 540 | 359
Pembe. E o Império Empalideceu de Medo, Fúria e Vergonha

Resumo

O Império empalideceu de medo, fúria e vergonha são as palavras que no romance “A Conjura”, José Eduardo Agualusa utiliza para descrever as consequências da derrota que as tropas portuguesas sofreram no sul de Angola em 1904. Nesse acontecimento que para a História ficou conhecido como o “Desastre do Vau de Pembe” terão perdido a vida um décimo do total das forças existentes em Angola. Derrotas em África não eram novidade. Antes pelo contrário. No entanto, as célebres campanhas de Moçambique e as vitórias no Bailundo e no Humbe tinham começado a criar um sentimento triunfalista, que era agora violentamente cerceado. O impacto deste acontecimento, se bem que conjuntural, foi assim profundo na sociedade portuguesa. Por todo o país se multiplicaram as cerimónias religiosas honrando os mortos, ao mesmo tempo que na Câmara dos Deputados a oposição progressista lançava um violento ataque ao governo regenerador e na imprensa surgiam artigos de opinião, estudos e entrevistas a militares, que tentavam contribuir para uma explicação do sucedido. Com esta comunicação perseguimos três objetivos: primeiro, compreender o esquecimento que a historiografia nacional, nas várias fases da sua evolução ao longo do século XX, conferiu a este acontecimento. Não pretendendo entrar por caminhos hagiográficos sem sentido, muitas vezes nos surgiram em mente as célebres palavras de Vieira: “Se servistes a Pátria, e ela vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, e ela o que costuma”. Segundo, estudar as modalidades do impacto político e social causado por este malogro militar; terceiro, averiguar de que modo as propostas então surgidas tiveram implicação real.

Palavras-chave

Angola, Pembe, Cuamatos, Exército Colonial, Exército Ultramarino, Expedição Militar.

Autor(es) (*)

Avatar Marco Fortunato Arrifes
 516 | 343
O Impacto da Intervenção Militar em Moçambique nos Finais do Século XIX para o Desenvolvimento das Campanhas Africanas

Resumo

Desde meados do século XIX, das províncias ultramarinas os portugueses apenas estavam habituados a receber notícias de derrotas e humilhações militares que, normalmente, custavam as vidas dos soldados envolvidos em tais iniciativas. Periodicamente chegavam informações à metrópole de que as ambições lusitanas em África se encontravam ameaçadas ora por revoltas locais ora devido à cobiça das principais potências europeias. Nos anos finais do século XIX, este panorama começou a alterar-se. A partir de 1894 o país iria envolver-se numa primeira guerra colonial dos tempos modernos em múltiplas frentes, erradamente designada como “Campanhas de Pacificação” dos territórios ultramarinos, que consumiram recursos humanos e tecnológicos muito para além do que se estava habituado a ver. Os resultados operacionais seriam bastante encorajadores e também se ficaram a dever ao uso em larga escala de auxiliares recrutados nos vários pontos do Império, a uma melhoria dos meios logísticos empregues, nomeadamente ao nível das condições sanitárias e à superioridade do armamento utilizado. Por outro lado, construiu-se uma hagiografia colonial em torno de uma geração de “heróis” militares que nasceram com estas campanhas e que serviu propósitos ideológicos bem definidos. Para todos eles, os territórios ultramarinos faziam parte da pátria e deveriam, por isso, ser defendidos de agressões externas, fossem elas quais fossem. O Império não podia ser discutido, sendo antes um factor de unidade nacional. Conferiu-se, assim legitimidade a uma retórica patriótica e belicista, em relação ao Ultramar, que atravessou os vários tipos de regimes políticos observados em Portugal ate ao último quartel do Século XX sem que alguma vez se questionasse oficialmente a matriz colonial da pátria. Esta comunicação procura discutir e problematizar o impacto do envolvimento militar em Moçambique, sob estas múltiplas vertentes, a partir dos anos finais do século XIX na doutrina de guerra portuguesa até às vésperas da abertura da frente africana já em contexto da I Guerra Mundial.

Palavras-chave

Campanhas Africanas, Moçambique, Mouzinho de Albuquerque.

Autor(es) (*)

Avatar Paulo Jorge Fernandes
 531 | 355
A Primeira Guerra Mundial em Angola. O Ataque Alemão a Naulila. Preparar-se para uma Guerra e Combater Outra

Resumo

O objetivo deste artigo é enfatizar aspetos estratégico-militares relativos ao combate de Naulila, entre forças militares portuguesas e alemãs, ocorrido em 18 de dezembro de 1914. A vasta historiografia produzida no seguimento da participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial considera a ação alemã como um ataque punitivo. Porém, as condições estratégico-militares no Sudoeste Africano e em Angola levam-nos a considerar que se tratou de uma ação preemptiva para desorganizar o que os alemães entendiam ser a preparação de um ataque a partir de Angola. O movimento das forças portuguesas para a fronteira sul de Angola e o facto de os alemães poderem ser atacados por linhas exteriores podem ter sido indicadores decisivos para o ataque alemão em 18 de dezembro de 1914.

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, Alves Roçadas, Naulila, Sudoeste Africano, Ataque Preemptivo.

Autor(es) (*)

Avatar Luís Fernando Machado Barroso
 578 | 370
Moçambique e as Opções de Heinrich Schnee e Von Lettow-Vorbeck durante a Grande Guerra

Resumo

As memórias do Governador da África Oriental Alemã, Heinrich Schnee, e do respetivo Comandante-chefe da denominada Força de Proteção, Paul Émile von Lettow-Vorbeck, demonstram bem o ambiente tenso que existia entre ambos, especificamente, durante a campanha alemã em terras de Moçambique nos finais de 1917 e durante o ano de 1918. Schnee defendia a neutralidade desde o início da grande guerra (em agosto de 1914) e acreditava que assim poderia preservar os territórios africanos na posse da Alemanha. Vorbeck queria deter o inimigo, isto é, os britânicos, impedindo que as suas forças fossem empregues nos restantes teatros da Grande Guerra: “não tínhamos o domínio do mar (…) mas uma população leal de oito milhões aptas a pegar em armas (…) A Inglaterra poderia levar todos os seus askaris para outros teatros de operações (…) teria sido duma vantagem evidentemente grande para a Inglaterra se existisse algum acordo que nos condenasse à neutralidade (Lettow-Vorbeck, 1923: 21-22). Venceu, ou antes, impôs-se, a tese do Comandantechefe e Schnee, iria aceitar ingressar nas colunas militares e cumprir com as determinações de Vorbeck. No momento do anúncio do armistício, poucos dias depois de sair de Moçambique, solicitou imediatamente a primazia da direção política e lamentou profundamente o vexame de ter de evacuar a colónia (Schnee, 1918: 121). Vorbeck tinha conseguido deter e forçar o inimigo a combater e a empenhar elevadíssimos meios humanos, materiais e financeiros, em número muito superior ao alemão. A Alemanha tinha capitulado e perdido os seus territórios em África. Britânicos, Belgas e Portugueses perderam milhares, centenas de milhares de vidas. Quem venceu em África?

Palavras-chave

Letow-Vorbeck, Heinrich Schnee, África Oriental Alemã, Deutsch Ostafrika, Moçambique.

Autor(es) (*)

Avatar Nuno Correia Barrento de Lemos Pires
 545 | 374

(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.