Cadernos do IUM N.º 47 - A Geopolítica dos chokepoints e dos shatterbelts (Vol. III)

Editorial

A presente obra, constituída por três volumes dos Cadernos do IUM (números 45, 46 e 47) versa os domínios da geopolítica e da geoestratégia – especificamente relacionados com chokepoints e shatterbelts –, congregando um conjunto de trabalhos realizados na Unidade Curricular de Geopolítica do Curso de Estados Maior-Conjunto 2019-2020, o que é de salientar, pois representa bem a superior qualidade e o nível de exigência do ensino neste Instituto.
Numa análise abrangente e plena de atualidade dos principais chokepoints e shatterbelts, de grande relevância para a economia mundial e para a projeção do poder militar em termos globais, os estudos agora levados à estampa analisam, ainda, os interesses das grandes potências em cada uma das áreas geográficas e as dinâmicas locais e regionais decorrentes da existência destes dois espaços geográficos sobrepostos. Uma perspetiva integral da análise essencial para melhor entender as relações complexas entre os diversos atores e, ainda, a relação entre chokepoints, em particular os que servem de entrada e saída do Mar Mediterrâneo: Gibraltar, Suez, Bab el-Mandeb, Bósforo e Dardanelos.
Felicito os autores e coordenadores desta obra e faço votos de que seja de utilidade e contribua para o enriquecimento científico e cultural de um largo número de leitores, seja no âmbito de estudos académicos ou no de uma leitura mais descontraída.
 

IUM em Pedrouços, 01 de outubro de 2020

Tenente-general Manuel Fernando Rafael Martins
O Comandante do IUM

Artigos

O Estreito de Malaca, o Mar da China, o Estreito de Taiwan e o Estreito da Coreia

Resumo

O Estreito de Malaca liga os Oceanos Índico e Pacífico e está largamente nas mãos de Singapura e dos Estados Unidos da América. Trata-se do principal canal de transporte marítimo da Europa e da Ásia Ocidental para o extremo Oriente (China, Japão, Coreia do Sul e Taiwan) e toda a fachada Oeste do Continente americano. Atualmente, este chokepoint tem uma importância geoestratégica vital para a China, dependente política e economicamente dos abastecimentos energéticos do Médio Oriente, que por isso, tem procurado soluções alternativas. Quem controlar o estreito, controla o corredor energético e comercial vital para a China. O Mar da China do Sul está a adquirir grande centralidade à projeção de poder da China, ampliado pela criação de ilhas artificiais militarizadas nele. A Leste, o Estreito de Taiwan constitui-se como ponto central das disputas entre Taiwan e a China, que vê a ilha como seu território, possuindo motivações nacionalistas e securitárias na prossecução da reunificação. Trata-se de um estreito hoje profundamente estrangulado e militarizado pela estratégia naval chinesa na região. Taiwan tem nos EUA o seu principal parceiro para contrapor o poder de Pequim. A zona tem ainda elevado interesse estratégico por passar neste chokepoint grande parte dos abastecimentos para o Nordeste Asiático. O Estreito da Coreia estabelece a ligação entre o Mar do Japão com o Oriente e o MCS, cuja importância geoestratégica decorre do controlo do acesso ao Oceano Pacífico (e vice-versa), além de estabelecer uma ponte de ligação entre o triângulo China-Japão-Rússia. O presente artigo centra-se nas relações de poder entre os atores identificados anteriormente, realçando o envolvimento, direto ou indireto, da China e dos EUA para o controlo destes chokepoint. Neste contexto, verifica-se uma relação de interdependência entre o MCS e os Estreitos de Malaca, de Taiwan e da Coreia, nas rotas comerciais com o Índico e Europa e no acesso ao Ártico, por serem os pontos de passagem economicamente viáveis. Por permitirem o controlo regional com implicações globais, estes chokepoints obrigam os Estados a exercer os seus instrumentos de poder, para salvaguardar os interesses nacionais, num contexto de globalização e competitividade crescentes, tornando a região altamente dinâmica e volátil.

Palavras-chave

Chokepoints, Estreito de Malaca, Mar da China do Sul, Estreito de Taiwan, Estreito da Coreia

Autor(es) (*)

Avatar Luís Miguel Rodrigues Gomes
Avatar Mafalda de Jesus Gomes de Almeida
Avatar Pedro da Silva Monteiro
 311 | 84
Os Estreitos de Bósforo e Dardanelos, e o Estreito de Kerch

Resumo

Desde que no antigo império Otomano foi descoberto petróleo na região da Pérsia que a mesma ganhou prevalência na Geopolítica Internacional. Desde então que os estreitos turcos têm sido alvo de várias guerras e conflitos com o intuito de garantir o seu controlo. Por sua vez, o Estreito de Kerch ganhou maior prevalência com a crise na Ucrânia, e mais concretamente com a anexação da Crimeia por parte da Rússia, em 2014. Assim, e de forma a abordar a temática apresentada, a metodologia utilizada assenta no raciocínio dedutivo, através de uma estratégia qualitativa, sendo a recolha de dados baseada na análise documental e pesquisa bibliográfica. Com a presente investigação concluiu-se que de facto é notável a relevância estratégica destes três chokepoints, mormente, a nível das rotas militares e comerciais entre a Europa e a Ásia, advindo desse facto o interesse e a presença na região de atores como a Rússia, a China, os EUA ou a UE, para mencionar apenas os mais relevantes.

Palavras-chave

Chokepoints, Estreito do Bósforo, Estreito de Dardanelos, Estreito de Kerch, Relevância Estratégica.

Autor(es) (*)

Avatar Carlos Eduardo Patronilho Rodrigues de Queiroz
Avatar Luís Miguel Zorreta Padilha Rosado
 270 | 70
O Estreito da Dinamarca e o Báltico Oriental

Resumo

A geopolítica contemporânea, com caraterísticas multipolares, determina indubitavelmente as relações interestatais. Nesse desiderato, ganha alavancagem regional quem controla chokepoints. Contudo há potências que, mesmo não controlando, influenciam seja do ponto de vista político, económico e/ou securitário. O Estreito da Dinamarca não é exceção. As recentes incursões, navais e aéreas, de forças militares russas, relevam a importância deste canal para a segurança europeia e para os aliados da NATO, dada a ligação que este estreito tem com a região dos Bálticos. O Objetivo Geral deste trabalho consiste em percecionar a importância do Estreito da Dinamarca na geopolítica contemporânea. No Estreito da Dinamarca, constituem-se como pontos de abordagem geopolíticos as ilhas de Bornholm e Gotland, que se assumem como pontos centrais para o controlo do Báltico Oriental e a costa norte da Polónia, o sul da Lituânia, e Riga, na Látvia, face a Kaliningrado e a São Petersburgo russos. Também importa realçar e ser tido em linha de conta a ameaça constituída pela Rússia aos estados do Báltico Oriental, designadamente para a Suécia, Finlândia, bem com a perspetiva oposta (perceção russa), considerando como ameaça para Moscovo o alargamento da NATO e da UE a toda essa orla marítima. Ao nível das principais conclusões, salienta-se que o país que impõe maior dinâmica à região do Báltico é a Rússia, que das interações poderão resultar consequências potenciadas pelo possível agravamento das relações decorrente de desafios políticos dos países com interesses e que a região do Mar Báltico ainda é uma área com diferentes zonas de segurança energética, onde permanecerá a discórdia entre os países que questionam o facto de a Rússia ter uma vantagem nas relações energéticas com a UE (como por exemplo a Alemanha) e países que veem uma ameaça constante do Oriente e uma instrumentalização política energética (como por exemplo os EUA).

Palavras-chave

Estreito da Dinamarca; Rússia; Nord Stream.

Autor(es) (*)

Avatar João Daniel Gaioso Fernandes
Avatar Pedro Miguel Dias Ramos
Avatar Rodrigo Eloy dos Santos
 281 | 80
O Canal da Mancha (Strait of Dover)

Resumo

O presente trabalho, tem como objetivo analisar a importância do Canal da Mancha em termos de relações de poder entre os vários atores com interesses naquela região. Além de fazer a ligação entre a ilha do Reino Unido e a parte continental da Europa, através de França, o Canal da Mancha, designado na Grã-Bretanha pelo Strait of Dover, assume especial relevância em termos comerciais e estratégicos. O uso deste canal por parte da China como rota comercial para exportar os seus produtos veio aumentar valor deste chokepoint, a que se soma o seu valor para a estratégia militar de França e Reino Unido. As recentes incursões, navais e aéreas, de forças militares russas, relevam a importância deste canal para a segurança europeia e para os aliados da North Atlantic Treaty Organization, dada a ligação que este estreito tem com a região dos Bálticos. O objeto de estudo é o Canal da Mancha, enquanto chokepoint no âmbito dos fatores geoestratégicos políticos, económicos e militares, foram considerados os atores mais relevantes e com potenciais interesses na região.

Palavras-chave

Canal da Mancha, NATO, Chokepoint.

Autor(es) (*)

Avatar Hélio Gonçalves da Silva
Avatar Nelson Miguel Gonçalves Ferreira
 285 | 70

(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.