Editorial
Estimados leitores,
A presente publicação reúne seis estudos sobre a adaptação estratégica face a mudanças no cenário global de segurança e defesa, abordando temas que vão desde o planeamento de forças terrestres até à resposta a ameaças nucleares, à defesa espacial e ao impacto da ascensão da China na segurança global.
O primeiro estudo aborda a importância de bases epistemológicas e ontológicas sólidas no planeamento de forças terrestres, mesmo em contextos de baixa ameaça.
O segundo foca-se nas respostas da OTAN e UE à ameaça nuclear exacerbada pela invasão da Ucrânia, destacando a parceria transatlântica e o papel de Portugal.
O terceiro estudo propõe o contributo da Força Aérea para a defesa espacial, com base em lições identificadas de outros países e no foco em "pessoas, processos e tecnologia".
O quarto analisa a modernização militar chinesa e suas implicações geopolíticas no Indo-Pacífico.
O quinto estudo estuda o realinhamento estratégico da Alemanha após a invasão da Ucrânia, com impacto na OTAN e UE. O sexto destaca a importância das Forças de Operações Especiais na Defesa Nacional, especialmente em cenários de guerra irregular.
Esta obra oferece uma análise abrangente e atualizada dos principais desafios e evoluções nas capacidades militares, servindo como referência para investigadores e profissionais da área de segurança e defesa.
Boa leitura!
Ana Esteves
Tenente-coronel
Coordenadora editorial do CIDIUM
Artigos

Resumo
As sociedades modernas, sobretudo as pertencentes à Europa Ocidental, tendem a questionar a utilidade da Defesa Nacional e das Forças Armadas, devido à perceção de que o grau das ameaças e riscos a que estão sujeitas é reduzido. Os planeadores estratégicos militares são confrontados com o desafio de terem de fundamentar o investimento em capacidades militares credíveis, para dar cabal cumprimento a um conjunto diversificado de missões atribuídas. O objeto desta investigação é a relação entre o pensamento estratégico estruturado e o planeamento de forças terrestres. O objetivo geral deste estudo foi avaliar a influência do pensamento estratégico estruturado no planeamento de forças terrestres, para o que foi efetuada uma caracterização do pensamento estratégico estruturado, na sua fundamentação ôntica e epistemológica; e foi analisado o atual processo de planeamento de forças terrestres. Em termos metodológicos, quanto ao tipo de raciocínio, foi seguido o pensamento crítico, articulado com uma estratégia qualitativa, sustentada numa análise documental, tendo o desenho de pesquisa sido transversal. Concluiu-se que o planeamento de forças terrestres é influenciado pelo pensamento estratégico estruturado, tendo a presente investigação confirmado que o planeamento de forças terrestres beneficia do pensamento estratégico estruturado, na sua fundamentação ôntica e epistemológica, enquanto base conceptual.
Palavras-chave
Estratégia, estratégia militar, epistemologia, pensamento estratégico, planeamento de forças terrestres, ontologia.Autor(es) (*)



Resumo
O objeto de estudo da presente investigação é a resposta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (UE) face à ameaça nuclear. O objetivo geral consiste em analisar o contributo da grande estratégia da OTAN e da UE face à ameaça de natureza nuclear ao espaço euro-atlântico, decorrente da invasão da Ucrânia pela Federação Russa (FR). A metodologia empregue no estudo seguiu um raciocínio dedutivo, empregou uma estratégia qualitativa, baseada na análise documental e numa entrevista semiestruturada e o desenho de pesquisa foi o estudo de caso. A análise efetuada permitiu concluir que o principal contributo da grande estratégia da OTAN e da UE decorre da visão de uma parceria transatlântica, sustentada em valores e princípios comuns às duas organizações, que atende aos fins a atingir, integrando a utilização do instrumento militar e de instrumentos não-militares, como são o instrumento diplomático e económico e com vista a garantir a segurança do espaço euro-atlântico. No caso específico da ameaça nuclear representada atualmente pela FR, constata-se a manifestação da parceria transatlântica nas respostas identificadas, conjugando os instrumentos de coação militar, económica e diplomática. Neste contexto, Portugal participa de forma plena nos mecanismos de decisão.
Palavras-chave
Ameaça nuclear, controlo de armamento, dissuasão nuclear, Grande Estratégia, OTAN, parceria transatlântica, União Europeia.Autor(es) (*)



Resumo
Com a publicação da Estratégia Portugal Espaço 2030 e consequente criação da Agência Espacial Portuguesa – PT Space – a par da declaração da North Atlantic Treaty Organization (NATO) considerando o Espaço como domínio operacional e do crescimento da importância dos serviços e produtos de base espacial, também a Defesa Nacional publicou a sua Estratégia da Defesa Nacional para o Espaço 2020-2030 e o Plano de Ação para a sua implementação. Neste contexto, esta investigação tem como objetivo propor contributos da Força Aérea potenciadores da implementação da referida Estratégia, adotando um raciocínio indutivo, uma estratégia de investigação qualitativa e estudo de caso. A análise efetuada incidiu em estratégias congéneres e boas práticas de outros países, a par de entrevistas efetuadas a entidades e especialistas relevantes para o setor espacial nacional, militar e civil, e da NATO. Concluiu-se que a realidade nacional é distinta da adotada pelos países analisados e que a Força Aérea tem potencial para promover a implementação da Estratégia da Defesa Nacional para o Espaço 2020-2030. O modelo proposto para os contributos da Força Aérea pressupõe alterações na Estratégia, com impacto na governação do Programa Espacial da Defesa, e assenta, internamente, nos pilares “pessoas, processos e tecnologia”.
Palavras-chave
Espaço, estratégia, Força Aérea.Autor(es) (*)



Resumo
O desenvolvimento económico da China e a sua projeção internacional através de relações de interdependência em diversos Estados, tem aumentado a relevância deste ator no Sistema Político Internacional. Contudo, a dependência de recursos energéticos tem levado a China a investir no instrumento militar, considerado fundamental para a segurança do seu desenvolvimento pacífico. Embora a modernização das Forças Armadas chinesas assentes numa Política de Defesa Nacional defensiva, tem servido para afirmar os seus interesses no Mar da China do Sul e Mar da China Oriental, na reunificação de Taiwan e no controlo de rotas comerciais estratégicas, através do estabelecimento de bases militares, gerando desconfianças em diversos atores. Por outro lado, a China passou a ser o membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas com mais militares em Operações de Apoio à Paz, tornando-se pertinente compreender os motivos do acentuado desenvolvimento militar chinês, face às implicações no equilíbrio de poder na região Indo-Pacífico. O presente trabalho centra-se na análise da estratégia total chinesa e da forma como o seu instrumento militar concorre para o cumprimento dos objetivos político-militares. Neste contexto, verifica-se um desenvolvimento económico-militar integrado que concorre para os objetivos e ambições da estratégia total chinesa.
Palavras-chave
Capacidades militares, China, Estratégia Total, instrumento militar, política de Defesa Nacional.Autor(es) (*)


Resumo
Este trabalho analisa a reorientação estratégica da Alemanha face ao conflito Ucrânia-Rússia, conhecida como Zeitenwende. Este ponto de viragem permite várias interpretações e marca, entre outras coisas, uma mudança de paradigma na política externa e de segurança alemã, com efeitos profundos na orientação estratégica e na organização operacional da Bundeswehr. O trabalho analisa o desenvolvimento histórico da estratégia de segurança alemã desde a reunificação, a reformulação da estratégia através do atual documento da Estratégia de Segurança Nacional e o papel da Bundeswehr no âmbito deste realinhamento. Esta estratégia sublinha a necessidade de uma maior prontidão da defesa, de uma cooperação mais intensa no âmbito da União Europeia e da NATO e de uma maior ênfase na defesa global. O estudo esclarece a forma como a Alemanha está a redefinir o seu papel no âmbito da arquitetura de segurança transatlântica e, assim, proporciona uma nova perspetiva para académicos, decisores políticos e peritos em segurança interessados nas implicações destes desenvolvimentos para a segurança e a estabilidade na Europa.
Palavras-chave
Alemanha, Estratégia de Segurança Nacional, Forças Armadas Alemãs, Zeitenwende.Autor(es) (*)



Resumo
Atualmente surgem novos conceitos, como a defesa abrangente, a qual se baseia na resiliência e resistência nacionais. Por sua vez, às Forças de Operações Especiais, que nos últimos anos têm visto reconhecida a sua utilidade estratégica, lançam-se novos desafios. Neste contexto, o objetivo deste estudo é propor contributos das Forças de Operações Especiais na consecução de uma estratégia de defesa abrangente. Em termos metodológicos utilizou-se um raciocínio indutivo, estratégia qualitativa e estudo de caso, baseados numa análise documental e entrevistas semiestruturadas. O estudo revela que as Forças de Operações Especiais, fruto da sua natureza e modus operandi, podem ter um papel significativo na defesa abrangente. De destacar que o seu conhecimento da guerra irregular se traduz numa mais-valia para a prossecução desta estratégia. As conclusões da investigação mostram-nos a importância das Forças de Operações Especiais em cada fase da defesa abrangente, de modo a incrementar a capacidade de resiliência e resistência nacionais. Deixam-se ainda alguns desafios para o futuro, como a necessidade de valorizar a utilidade estratégica das Forças de Operações Especiais, bem como, desenvolver a capacidade de atuar na guerra irregular, na qual o Curso de Operações Irregulares pode ter um papel ainda mais relevante.
Palavras-chave
Defesa abrangente, Forças de Operações Especiais, resiliência, resistência.Autor(es) (*)


(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.