Coleção Ares N.º 20 - O Combatente Português

Editorial

Em 1976, John Keegan, então professor de História Militar da Academia Militar de Sandhurst, publicava a obra “O Rosto da Batalha”. Era, na altura, uma abordagem inédita e que contrastava com uma das ideias de história militar em vigor: a guerra não era vista pelas elites políticas e pelos generais, mas sim pelas bases, pelos homens que a combatiam. Eram observados os detalhes práticos do combate e os problemas que se colocavam aos homens no terreno.
O Seminário Livre “O Combatente Português” inspirou-se na ideia de Keegan e foi a primeira iniciativa deste género levada a cabo pelo Instituto Universitário Militar (IUM). Durante o primeiro semestre do ano letivo de 2015-2016, ao longo de 10 sessões, ao ritmo de uma por semana, uma dezena de reconhecidos especialistas conduziram os participantes através dos contextos, realidades, ansiedades e gáudios dos homens que combateram, na terra e no mar, nas fileiras de Portugal.
O elemento comum entre as sessões foi o combatente – marinheiro ou soldado – apresentado e analisado pelos intervenientes, tendo sido escolhidos alguns momentos de maior intensidade beligerante de Portugal. Entendeu-se, também, restringir cronologicamente a abrangência entre a Idade Média e o início do século XX. Com efeito, as sessões iniciaram com o guerreiro medieval, protagonista do desenho e consolidação desta entidade política autónoma do Ocidente Peninsular e terminaram com o marinheiro e o soldado da Grande Guerra, evocação oportuna nesta altura em que se evoca o centenário daquele conflito.
O Seminário Livre “O Combatente Português” revestiu-se de grande importância para o IUM por vários motivos. Ao facto já aludido de se tratar da primeira iniciativa do género, juntam-se outros fatores, dos quais se destacam:
– A responsabilidade de difusão de conhecimento científico, sendo que a história militar constitui uma das áreas mais caras à Instituição;
– A necessidade de contínua atualização e valorização dos quadros das Forças Armadas e Guarda Nacional Republicana;
– A possibilidade e responsabilidade de divulgação de conhecimento junto de uma comunidade que se interessa por estes assuntos e que extravasa o contexto das Forças Armadas e de Segurança.
Como atual Comandante do IUM, manifesto nestas linhas o agradecimento aos palestrantes, que acolheram a ideia e se prontificaram, de imediato, a apoiar a iniciativa e em brindar os participantes com o seu conhecimento. Tivemos a oportunidade única de contar e poder debater com investigadores responsáveis pelo avanço de conhecimento científico em cada um dos assuntos e períodos abordados. É também de toda a justiça destacar a estreita e fundamental colaboração do Professor Miguel Gomes Martins, que assumiu a responsabilidade científica do Seminário.
O volume que ora damos à estampa é a síntese de oito das dez comunicações apresentadas pelos oradores. Intencionalmente, foi solicitado a cada um que elaborasse uma síntese da sua exposição, de modo descomprometido e direcionado para a divulgação ampla. Estamos na presença de uma composição única, que atravessa uma cronologia alargada e apresenta as dimensões principais do conhecimento histórico acerca dos indivíduos, dos combatentes.
Desejaríamos ter podido incluir também o conteúdo dos debates de cada sessão, que aprofundaram os assuntos e enriqueceram sobremaneira o Seminário. Há, no entanto, facetas da comunicação que só são possíveis através do contacto pessoal, do encontro presencial. E é nessa certeza que o IUM se constituiu e continuará a constituir como organizador e promotor de encontros científicos, quer no meio académico, quer vocacionados para o público em geral.

Vice-almirante Edgar de Bastos Ribeiro
Comandante do Instituto Universitário Militar

Artigos

O Combatente Português na Idade Média

Resumo

(…), esta nossa análise terá como objeto de estudo, os combatentes portugueses da Idade Média, entendidos como aqueles que num determinado momento e de forma direta participam pessoalmente nas atividades guerreiras conduzidas pelas autoridades portuguesas, em particular pela Coroa.

E conhecê-los implica, em primeiro lugar, identificar e observar quais as forças de que a Monarquia dispunha para as operações militares que empreendia, algo que, desde logo nos revela não um, mas diversos tipos de combatentes, agrupados em quatro grandes categorias.

Palavras-chave

Idade Média, Combatentes, Operações militares, Monarquia, Portugal.

Autor(es) (*)

Avatar Miguel Gomes Martins
 273 | 83
O Combatente da Restauração

Resumo

Ainda se afigura um verdadeiro desafio reflectir sobre as conjunturas da Restauração de 1640-1668, visto ser uma época transversalmente obscura em cômputos historiográficos. Foram tempos terríveis, severamente traumáticos, os quais marcaram incisivamente todo o século XVII, só comparáveis com os ‘anos negros’ do século XIV. A nossa Restauração deve ser entendida, no seu espectro, como uma consequência da Guerra dos Trinta Anos [1618-1648], a qual assolou toda a Europa, mas cujas dinâmicas reflectiram-se num âmbito geoestratégico mais vasto, inclusivamente numa lógica de transcontinentalidade. 

Assim, condicionados pela geografia e uma forma moderna de “fazer a guerra”, sem esquecer o impacto das movimentações diplomáticas, a luta pela recuperação da independência e da soberania nacionais foi, em boa verdade, um conflito periférico no panorama europeu, como sucedeu, por exemplo, com a Guerra Civil inglesa [1642-1651], cujas consequências adivinhavam o que sucederia, cerca de 150 anos volvidos, as alterações macroestruturais europeias após a Revolução Francesa [1789].

Palavras-chave

Restauração, Combatentes, Guerra, Portugal.

Autor(es) (*)

Avatar Eurico Gomes Dias
 258 | 73
O Marinheiro do Século XVII

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar “O combatente Português” na vertente do “marinheiro do século XVII”. 

Este estudo tem como objetivo de enquadrar o homem, o militar, e o marinheiro do século XVII, mas para poder enquadrar a componente naval, no ambiente geopolítico, político, e das políticas navais da época, que nos ajudaram a compreender o nosso “marinheiro do século XVII”. 

Este trabalho tem como balizas, os aspetos da organização a bordo e o emprego de naus de guerra e galeões na política naval, no Atlântico. E em termos temporais, terá como limites, 1621 início do reinado de Filipe III de Portugal e o ano de 1668 data do reconhecimento da independência do Reino de Portugal, pela monarquia espanhola.

Palavras-chave

Marinha de Guerra, Combatente, Séc. 17, Portugal.

Autor(es) (*)

Avatar Carlos Alberto José Isabel
 276 | 79
O Combatente do Século das Luzes

Resumo

Para irmos ao encontro do desafio que nos foi levantado, começaremos por abordar, de modo particularmente sintético, o Século das Luzes, como espaço de intervenção dos combatentes. Trataremos depois o combatente português, desde a Guerra da Sucessão de Espanha à Campanha do Rossilhão e da Catalunha, destacando três estudos de caso, que em muito nos aproxima da realidade da época. Apresentaremos, por último, umas considerações finais, onde destacaremos os aspetos caracterizadores do combatente português do Século das Luzes.

Palavras-chave

Combatente, Século das Luzes.

Autor(es) (*)

Avatar João Jorge Botelho Vieira Borges
 268 | 79
O Combatente da Guerra Peninsular (1807-1814)

Resumo

Este será um texto sobre os vários tipos de combatentes, comando e comandantes mas, sem pretender entrar, propriamente, em aspetos do “rosto da batalha” ou da “máscara do comando”. Pretendemos caracterizar o sistema de comando e as organizações dos combatentes e não os comandantes, mas inevitavelmente, teremos de dar alguma atenção à personalidade por detrás dos comandantes. Assim, vamos começar por analisar os vários sistemas de organização das forças e do respetivo comando durante a guerra peninsular. Começamos com os franceses, analisaremos Espanha e Portugal e terminaremos com o comando britânico e aliado. No final tentaremos elaborar uma visão conjunta e comparativa salientando assim a caracterização da essência dos muitos e variados combatentes portugueses.

Palavras-chave

Combatente, Guerra Peninsular.

Autor(es) (*)

Avatar Nuno Correia Barrento de Lemos Pires
 250 | 70
O Combatente nas Campanhas Africanas

Resumo

À entrada da década de 1890 chegou a ser considerada a possibilidade de apostar no desenvolvimento dos domínios coloniais pela via desenvolvimentista da extensão do poder infraestrutural do Estado em articulação com os interesses britânicos. Tratava-se de uma opção lógica, mas politicamente inexequível no momento. A onda patriótica que varreu a metrópole e que tornou visível o movimento republicano, com especial ênfase após o «Ultimatum» (1890), impediu qualquer tipo de avanços neste campo, sobretudo na África Austral. Escolheu-se, então, a solução mais fácil, barata e demagógica, a da intervenção militar enquanto forma de defesa e promoção da soberania nacional nas colónias. Assim, a partir de 1895, o país iria envolver-se numa primeira guerra colonial dos tempos modernos em múltiplas frentes, erradamente designada como “Campanhas de Pacificação” dos territórios ultramarinos, da Guiné a Timor, passando por Angola, Moçambique e também pela Índia, que consumiram recursos humanos e tecnológicos muito para além do que se estava habituado a ver.

Palavras-chave

Combatente, Campanhas de África, Guerra Colonial.

Autor(es) (*)

Avatar Paulo Jorge Fernandes
 254 | 70
O Marinheiro na Grande Guerra

Resumo

Que Marinheiros Portugueses vão servir na Armada durante a Grande Guerra, que se fizeram ao mar muitas vezes em meios obsoletos e por vezes desadequados às missões que tinham de desempenhar, e como são preparados, é um assunto muito pouco trabalhado na historiografia portuguesa. Esta é uma primeira síntese de um estudo que ainda está no início, mas que já permitiu identificar algumas questões interessantes.

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, Marinha de Guerra, Portugal.

Autor(es) (*)

Avatar Augusto António Alves Salgado
 279 | 79
O Soldado na Primeira Guerra Mundial

Resumo

A Grande Guerra foi a maior operação militar no exterior em que participaram tropas portuguesas durante a primeira metade do século XX. Um conhecido poster de recrutamento da I Guerra Mundial mostra-nos um pai da classe média sentado numa cadeira, com a sua filha sentada ao colo. A criança pergunta ao pai com um ar preocupado: “Papá, o que fizeste na Grande Guerra?” Este poster não teria funcionado em nenhuma guerra anterior...Mas a I Grande Guerra foi travada a uma escala sem precedentes, por um exército que incorporava o cidadão comum, sob comando de soldados profissionais, como este pai inglês.

Palavras-chave

Primeira Guerra Mundial, Combatente, Portugal.

Autor(es) (*)

Avatar Ana Paula Pires
 271 | 75

(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.