Coleção Ares N.º 21 - Estudos Estratégicos

Editorial

Esta publicação da Coleção ARES, promovida pela Área de Estudo das Crises e dos Conflitos Armados, é a quarta edição dedicada aos Estudos Estratégicos, contribuindo assim para a consolidação de uma tradição nesta área.

Os Estudos Estratégicos assumiram preponderância na Guerra Fria, um período marcado pelo realismo nas Relações Internacionais, e onde o poder militar, encabeçado pela capacidade nuclear, era tido como um dos principais instrumentos da política dos Estados. Após a queda da União Soviética no final da década de 1980, o poder militar perdeu preponderância. Também a relevância dos Estudos Estratégicos foi questionada, essencialmente porque não conseguiram prever uma transformação no Sistema Político Internacional (SPI), materializada pelo fim da Era Bipolar, nem o aumento da conflitualidade intraestatal em plena década de 1990. Uma nova era surgia e, com esta, os Estudos de Segurança, que vieram dar uma importância maior a outras dimensões da segurança, além da estatal, como a individual, a das sociedades, e até a global.

Porém, o século XXI deu-nos a conhecer uma realidade ímpar, mais complexa, mais ambígua, mais incerta e com um novo quadro de conflitualidade. O terrorismo ressurgiu sob novas formas, o “eixo de rotação” do SPI desviou- se da Europa, novas potências (res)surgiram desafiando a superpotência, a nuclearização horizontal aumentou, tal como o número de Estados frágeis, os investimentos em armamento, e na defesa em geral, dispararam, novos conflitos surgiram sem uma perspetiva de fim e com estes, milhões de refugiados. O Século XXI trouxe-nos também uma ampliação do “léxico da guerra e dos seus derivados”. Frequentemente ouvimos falar de guerra híbrida, de terrorismo, de subversão, de insurgência, de guerras por procuração (proxy), de guerras sujas, de ciberguerra, de deterrence, de assurance measures, de “nova Guerra Fria”, entre outras referências. Perante tal realidade, torna-se inevitável uma reflexão acerca do papel do instrumento militar no mundo contemporâneo.

O tempo é, portanto, da estratégia! É à estratégia que cabe estabelecer a ponte entre os meios militares e os fins definidos pela política. É também à estratégia, no seu desenvolvimento, que cabe confrontar, e continuar a validar, a matriz de referência, corporizada pela trindade clausewitziana. Sem reflexão, sem debate, sem confronto de ideias e de realidades, bem como sem perspetivas multidisciplinares, não se prevê, não se produz conhecimento, não se evolui. É neste contexto que são apresentados 13 artigos individuais que versam sobre o estudo da estratégia.

Esperamos que esta publicação contribua para um enriquecimento do leitor numa área de conhecimento essencial para as Ciências Militares.

Vice-almirante Edgar de Bastos Ribeiro
Comandante do Instituto Universitário Militar

(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.