Coleção Ares N.º 32 - Novas Guerras: Da 5.ª Geração e do Outsourcing ao Espaço

Editorial

No plano primordial da cidadania importa relevar, de forma muito especial, a temática multisecular da projeção e afirmação de Portugal no mundo, porventura uma das suas mais distintivas marcas identitárias.
Nos nossos dias, tal desiderato concretiza-se de modo especialmente expressivo no posicionamento que Portugal tem vindo a adotar no quadro das mais importantes organizações internacionais de que é membro, tais como a ONU, a OTAN ou a UE.
Neste sentido, considero que a presente obra possui o reconhecido mérito de estudar as ponderosas razões que animam o interesse nuclear da Força Aérea Portuguesa em acompanhar a transformação tecnológica e doutrinária já em curso noutras Forças Aéreas, pois a evolução dos sistemas de armas dos nossos parceiros, mas igualmente de outras nações não-aliadas, é um ato contínuo que devemos não só atentamente observar como igualmente acompanhar.
Enquanto militar, sempre valorizei a importância de divulgar estudos concretos, objetivos e rigorosos, indispensáveis no suporte ao processo de tomada de decisão, razão pela qual considero que a presente publicação possa ser encarada como um vade-mecúm desta temática, pela elevada atualidade das matérias nela contidas, mas também pela clareza e rigor na forma como são expostas.
Enquanto aviador militar, sou naturalmente interessado pela vanguarda tecnológica aeronáutica, sempre associada à mais rigorosa observância de uma sólida cultura e prática de segurança em voo. Neste plano, considero que este número 32 da Coleção ARES é uma mais-valia, atentando à promoção da elevada qualidade do treino dos pilotos militares, condição obrigatória para a sobrevivência em teatros de operações cada vez mais complexos, e onde a mentalidade multi-domínio ganha uma renovada dimensão.
Na qualidade de Chefe do Estado-Maior defendo a Visão de uma Força Aérea robusta e dimensionada, tendencialmente equipada com meios de última geração e com pessoal altamente qualificado, concorrente para a promoção e desenvolvimento do Poder Aeroespacial enquanto instrumento privilegiado do Poder Militar. Por tal, considero extremamente oportunos e verdadeiramente enriquecedores, tanto para executantes como para decisores, os resultados e conclusões expressos nos três excelentes estudos que compõem este livro.
Por tudo o que vai referido, felicito o conjunto de dedicados Oficiais que contribuiu para a realização desta obra, tendo a firme convicção de que a sua leitura decerto interessará a todos quantos se cativam pelas matérias nela versadas.
A todos apresento os meus votos de uma profícua leitura.


Lisboa, 23 de outubro de 2019
General Piloto Aviador Joaquim Manuel Nunes Borrego
Chefe do Estado-Maior da Força Aérea

Artigos

Substituição do F16MLU e entrada na 5ª geração

Resumo

Atualmente, assiste-se à aceleração tecnológica, à emergência de novos desafios e ameaças, e à obsolescência do F16 Mid-Life-Update (F16MLU) português, que influenciarão o paradigma de emprego do Poder Aeroespacial (PA) nacional no Ambiente Operacional Futuro (AOF). Sendo o PA, e consequentemente o F16MLU, instrumento fulcral na consecução e salvaguarda dos interesses nacionais, é necessário preparar a sua substituição. Este estudo investiga a substituição do F16MLU e entrada na 5.ª Geração, tendo por base: análise documental sobre paradigmas futuros de emprego do PA; análise de questionários e entrevistas a representantes de países operadores, e não-operadores, de sistemas de armas de 5.ª Geração (SA5G); análise documental da integração de SA5G em Forças Aéreas estrangeiras. Recorrendo a uma metodologia de raciocínio indutivo, assente numa investigação qualitativa e no desenho de pesquisa de estudo de caso, concluiu-se que o substituto do F16MLU necessitará de ser Low Observable, ter fusão de sensores e integrar o conceito futuro de Guerra de 5.ª Geração para vencer a ameaça futura aos interesses nacionais, os sistemas Anti-Access/Area-Denial. A sua integração na Força Aérea (FA) deverá ser em conjunto com os outros ramos das Forças Armadas (FFAA), a indústria e a sociedade civil, alicerçando-se em mudanças organizacionais, culturais e de mentalidade nos seus militares.

Palavras-chave

Substituição, F16, F16MLU, Multi-Domínio, 5.ª Geração, Quinta Geração, Poder Aeroespacial, Poder Aéreo, Sistema de Armas, Força Aérea.

Autor(es) (*)

Avatar Duarte Nuno Barbosa Freitas
Avatar Rodrigo José Fonseca Serra e Silva
 348 | 66
Outsourcing de Red Air: uma perspetiva para a Força Aérea Portuguesa

Resumo

Na última década, tem-se assistido à emergência de um novo paradigma nos programas de treino das Forças Aéreas que envolvem red air (RA) ou “oposição aérea”, repercutido na contratação de empresas civis (outsourcing ou externalização) fornecedoras de recursos materiais e humanos necessários à execução desta atividade aérea. Este estudo investiga o outsourcing de RA (ORA), atendendo à conjuntura atual e aos desafios futuros da Força Aérea Portuguesa (FA), com base na análise dos voos efetuados, num ano, pelas Esquadras 201/301 que operam o F-16 MLU, e das entrevistas conduzidas a seis dos seus oficiais pilotos instrutores, um oficial piloto instrutor de F-16 MLU e especialista em F-35 da Royal Netherlands Air Force (RNLAF), e um ex-piloto de F-16 MLU da RNLAF, especialista em RA, empregado numa empresa que providencia RA na Europa. Recorrendo a uma metodologia de raciocínio indutivo, assente numa investigação qualitativa com reforço quantitativo e no desenho de pesquisa de estudo de caso, concluiu-se que o ORA poderá ser uma maisvalia na FA, porque permite no presente, colmatar o défice de RA na FA e, no futuro, responder às exigências de treino de uma aeronave de 5.ª geração, caso a FA não disponha de meios para tal.

Palavras-chave

Externalização, Outsourcing, Red Air, Sistema de Armas de 5.ª Geração, Força Aérea Portuguesa.

Autor(es) (*)

Avatar Joel Martinho Pereira Pais
Avatar Paulo Ricardo Toipa da Silva
 316 | 69
A estratégia nacional para o espaço e as Forças Armadas

Resumo

A tecnologia espacial tornou-se essencial para as atividades quotidianas. A crescente dependência dos meios espaciais representa um desafio para militares e civis. Com o desenvolvimento do setor comercial o acesso ao Espaço tornou-se menos dispendioso e o número de atores tem vindo a aumentar. Esta mudança de paradigma torna o ambiente orbital mais congestionado, competitivo e contestado, levando a que as nações com capacidade espacial desenvolvam estratégias que permitam atingir as suas ambições no Espaço. A vertente militar desempenha um papel importante nesta dinâmica dada a sua dependência na tecnologia espacial para conduzir operações e pelo desafio que enfrenta ao reconhecer o Espaço como domínio operacional. Esta investigação analisa a ligação entre a Estratégia Nacional para o Espaço e as Forças Armadas, procurando sinergias. Inicia-se com uma abordagem ao contexto internacional, tomando como referência o processo estratégico dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. Através de analogias da biomecânica e da biologia molecular é efetuada uma análise à ligação entre a Estratégia Nacional para o Espaço e as Forças Armadas Portuguesas, identificando benefícios. É alcançada a conclusão de que a atual Estratégia Portugal Espaço 2030 requer um complemento de natureza securitária, que permita materializar as potenciais sinergias.

Palavras-chave

Estratégia Nacional, Espaço, Forças Armadas Portuguesas, Sinergia.

Autor(es) (*)

Avatar Augusto Miguel Agreiro Figueiredo
Avatar Pedro Miguel da Silva Costa
 283 | 52

(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.