Cadernos do IUM N.º 63 - A Modernização das Capacidades Militares no Mundo Digital

Editorial

Estimados leitores, 

Esta obra reúne seis estudos sobre a modernização das capacidades militares, com foco na defesa estratégica e no desenvolvimento industrial. O primeiro estudo aborda a necessidade de revitalizar a capacidade operacional da Marinha do Brasil, enfatizando a sua importância como primeira linha de defesa. O segundo explora a transformação digital nas Forças Armadas Portuguesas, visando a interoperabilidade com a NATO. O terceiro estudo analisa a implementação do modelo Intelligence-Led Policing na GNR, destacando a importância da análise de dados na tomada de decisões.

O quarto estudo investiga o contributo da Identity Intelligence nas operações militares, demonstrando como a combinação de dados biométricos e a análise de redes pode aumentar a eficiência em cenários complexos. Os últimos dois estudos focam-se na Base Tecnológica e Industrial de Defesa, abordando a necessidade de modernização e transição para a Indústria 4.0, fundamentais para a autonomia estratégica de Portugal e da Europa. 

Este compêndio oferece uma visão abrangente e atualizada dos desafios e soluções para a modernização das Forças Armadas e da indústria de defesa, sendo uma leitura essencial para decisores e especialistas na área.

Boa leitura!

Ana Esteves 
Tenente-coronel
Coordenadora editorial do CIDIUM

Artigos

Estudo 1 – A Capacidade Operacional da Marinha do Brasil: Perspetivas Estratégicas

Resumo

O Brasil possui excelentes relações diplomáticas com os países vizinhos, sendo naturalmente protegido por montanhas, selvas e oceano. Isto cria na população brasileira uma perceção de pacifismo, e a defesa perde prioridade, fazendo com que os recursos financeiros destinados às Forças Armadas sejam constrangidos sistematicamente. A consequência é a degradação da capacidade operacional das Forças e o depauperamento da mentalidade estratégica de defesa, aspetos que constituem o problema/objeto estudo deste trabalho. A estratégia de investigação mista foi escolhida para aferir os indicadores com maior precisão. A recolha de dados requereu pesquisa documental, inquéritos com oficiais experientes e entrevistas com um Comandante de Esquadrão e com o Chefe de Operações da Esquadra. O estudo pautou-se na prospetiva de confrontos entre forças navais, considerando os Estados Unidos da América e a China como atores principais. A formulação de uma hipótese estratégica que considerou a Marinha como a primeira linha de defesa do Brasil, a hierarquização de ameaças, a definição dos meios operativos necessários para se contrapor às ameaças e a avaliação da capacidade operacional atual da Marinha foram a base e o caminho para a proposta de medidas que permitam à Marinha manter uma capacidade para defender o Brasil.

Palavras-chave

Ameaças, ambiente operacional, capacidade operacional, estratégia, plano estratégico da Marinha, primeira linha de defesa do Brasil.

Autor(es) (*)

Avatar Marcos Aurélio de Oliveira Simas
Avatar Raphael Corrêa Silva
 8 | 8
Estudo 2 – Contributos para o Digital Backbone da Marinha Portuguesa

Resumo

As Forças Armadas portuguesas (FFAA) necessitam rapidamente de se adaptar ao contexto tecnológico atual e de alinhar o desenvolvimento digital com os Aliados e com a North Atlantic Treaty Organization (NATO). Este estudo visa identificar contributos para o Digital Backbone da Marinha Portuguesa, por forma a garantir a interoperabilidade e a condução de MultiDomain Operations com as FFAA, os Aliados e a NATO. Para desenvolver esta investigação adotou-se uma metodologia assente num processo de raciocínio indutivo, recorrendo a uma estratégia qualitativa, baseada num estudo de caso. O estudo identifica diversos desafios a superar como a exiguidade de recursos humanos e de competências digitais, a fragmentação da governação digital e a necessidade de investimento em infraestrutura tecnológica e em novas tecnologias. Analisa as estratégias da NATO e dos aliados, o modelo de segurança Zero Trust e a necessidade de transformar as FFAA numa organização orientada a dados. Do conjunto de contributos propostos destaca-se a aposta numa atuação conjunta das FFAA, o desenvolvimento de ecossistemas temáticos e de estratégias digitais, a melhoria da segurança digital e a adoção de práticas de governação robustas.

Palavras-chave

Data-driven, digital backbone, governação, Marinha, transformação digital, zero trust.

Autor(es) (*)

Avatar José Manuel dos Santos Coelho
Avatar Paulo Jorge Gonçalves Simões
 13 | 13
Estudo 3 – Intelligence-Led Policing: Contributos para sua Implementação na GNR

Resumo

Esta investigação tem por objeto de estudo o modelo Intelligence-Led Policing (ILP) que se apresenta como uma abordagem mais proativa colocando as informações no epicentro do processo de planeamento e decisão operacional. Partindo da tese inicial que o ILP se constitui uma mais-valia complementar para o policiamento da GNR, define-se como objetivo geral propor contributos para a implementação deste modelo na organização. A metodologia baseiase numa combinação de estratégias quantitativas e qualitativas. Os principais instrumentos de recolha de dados compreendem a análise documental, entrevistas semiestruturadas e inquérito por questionário. A amostra inclui oficiais de todos os níveis de decisão da GNR. Os resultados indicam que, embora o ILP não esteja totalmente implementado na GNR, reconhece-se a sua relevância e complementaridade com outros modelos de policiamento. A implementação do ILP depende da melhoria da capacidade analítica, através da integração de tecnologia avançada de análise de dados. O processo de decisão requer a integração sistemática de informações a todos os níveis de decisão. A formação específica em ILP é fundamental, assim como a autonomização da estrutura de informações ao nível tático. O envolvimento e compromisso das lideranças são fatores críticos de sucesso para superar a resistência à mudança e implementar efetivamente o ILP.

Palavras-chave

GNR, intelligence-led policing, Informações, policiamento.

Autor(es) (*)

Avatar Mário José Machado Guedelha
Avatar Paulo Jorge Macedo Gonçalves
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Estudo 4 - A Identity Intelligence Enquanto Instrumento Contribuinte para as Operações Militares: Desafios Face ao Ambiente Contemporâneo

Resumo

Esta investigação tem como objeto de estudo a Identity Intelligence, nomeadamente, no seu contributo como ferramenta no processo de produção de Informações no apoio oportuno a uma tomada de decisão eficaz em operações militares no atual ambiente operacional. Para tal, adotou-se uma metodologia consubstanciada num raciocínio indutivo e numa estratégia de investigação qualitativa, assente num estudo de caso, com recurso a análise documental e entrevistas semiestruturadas, de modo a proporcionar um aprofundamento significativo sobre a interação entre a tecnologia de identificação e as necessidades operacionais das Forças Armadas Portuguesas. Após se ter avaliado como pode a Identity Intelligence otimizar a conduta das operações militares, os principais resultados obtidos destacam a eficácia da Identity Intelligence em proporcionar informações precisas e oportunas que potenciam a tomada de decisão em cenários complexos e voláteis. Foi possível demonstrar que a Identity Intelligence, através da combinação de dados biométricos e análise de redes humanas, otimiza a capacidade de prever e reagir a ameaças, aumentando assim a eficiência das operações militares. As conclusões realçam o recrudescimento indelével da relevância da Identity Intelligence em adaptar-se e evoluir no seio das estruturas de informações militares, de modo a fazer face aos desafios impostos pela constante inovação tecnológica.

Palavras-chave

Análise de informações, ambiente operacional contemporâneo, Forças Armadas Portuguesas, identity intelligence, operações militares, tecnologia de identificação.

Autor(es) (*)

Avatar André Miguel Farinha Bento
Avatar Rui Pedro Gomes de Aguiar Cardoso
 7 | 7
Estudo 5 – Os Contributos da Base Tecnológica e Industrial de Defesa para o Desenvolvimento das Capacidades das Forças Armadas

Resumo

O regresso à Europa da guerra de alta intensidade evidenciou as debilidades do setor industrial europeu de defesa para providenciar às Forças Armadas as capacidades necessárias para enfrentar esta tipologia de conflitos. Portugal, em 2023, e a UE, em 2024, aprovaram estratégias para desenvolver a indústria de defesa, considerada um pilar fundamental para garantir uma autonomia estratégica em setores-chave dos Estados. Para formular orientações que promovam um maior contributo da base tecnológica e industrial de defesa para o desenvolvimento das capacidades das Forças Armadas, a investigação decorreu sob três perspetivas de análise relacionadas com a estratégia, as interações organizacionais e o processo de planeamento de defesa. Concluiu-se que a estratégia aprovada é adequada para alcançar os objetivos, mas necessita de instrumentos jurídicos e financeiros para sua implementação. Embora haja entendimento entre as entidades do ecossistema e a IdD Portugal Defence tenha um papel central como interlocutora entre Forças Armadas e indústria, ainda há problemas nos processos, recursos e competências. Além disso, o planeamento de defesa e a execução da lei de programação militar são áreas que mais precisam de ajustes e decisões para aumentar a participação da indústria em projetos militares

Palavras-chave

Base tecnológica, capacidades, ciclo de planeamento, defesa nacional, estratégia, Forças Armadas, idd Portugal Defence, indústria de defesa, programação militar.

Autor(es) (*)

Avatar José Manuel Figueiredo Moreira
Avatar Paulo Jorge Barbosa Rodrigues
 9 | 9
Estudo 6 – Contributos para a Implementação da Estratégia de Desenvolvimento da Base Tecnológica Industrial de Defesa 2023-2033

Resumo

A necessidade de fortalecer a indústria de defesa revela-se essencial para responder aos desafios de segurança atuais. Após um período marcado por baixos investimentos em defesa e uma crescente dependência de tecnologia externa, torna-se imperativo desenvolver a Base Tecnológica e Industrial de Defesa (BTID) para garantir a autonomia e a eficácia operacional das Forças Armadas. Neste contexto, é pertinente analisar os contributos que promovam uma transição eficaz para a Indústria 4.0, que se caracteriza pela adoção de tecnologias avançadas e pela automação e interligação de processos. A metodologia utilizada baseou-se num raciocínio indutivo a partir de um estudo de caso com uma abordagem mista, que incluiu análise documental e entrevistas semiestruturadas. Este estudo envolveu 17 entidades relevantes da BTID, permitindo obter uma visão abrangente sobre os desafios e sucessos da digitalização. Os resultados revelam uma integração significativa das tecnologias da Indústria 4.0 na BTID, embora se verifiquem diferenças entre os diversos setores. Apesar da BTID demonstrar um nível de maturidade tecnológica superior à média das empresas nacionais, enfrenta desafios como a necessidade de atualização contínua de competências e a integração de sistemas na era da transformação digital.

Palavras-chave

Base Tecnológica e Industrial de Defesa, Forças Armadas, indústria 4.0, transformação digital.

Autor(es) (*)

Avatar Paulo Jorge do Nascimento Fernandes
Avatar Pedro Mário Ferreira Fontes
Avatar Sofia Vitoriano Saldanha Junceiro
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(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.