Revista de Ciências Militares - Vol. X, N.º 1

Editorial

Com a edição do presente número da Revista de Ciências Militares (RCM), e da correspondente versão em inglês, Portuguese Journal of Military Sciences, o Instituto Universitário Militar (IUM) dá prosseguimento à difusão da investigação na área das Ciências Militares. 

Este décimo nono número da RCM leva à estampa quatro artigos de elevado valor científico, que, tal como os números antecedentes, foram avaliados através de um meticuloso e severo processo de análise, iniciado com a intervenção da Direção Editorial da revista, seguida pela revisão por pares em regime de duplo anonimato (double-blind peer review), equipolente ao realizado pelas melhores revistas científicas (nacionais e internacionais) e de
reconhecido prestígio. 

O primeiro artigo, enquadrado no estudo das crises e dos conflitos armados, aborda o tema A pirataria Somali contemporânea: de perigo à navegação regional a problema de segurança internacional. 

Os restantes três artigos, ligados a temáticas da gestão das organizações e do ambiente, em contexto militar analisam:

A Gestão de produtos químicos numa vertente de economia circular em contexto militar;

O Potencial de sequestro de carbono da Força Aérea: contributos para a sua otimização;

Os Contributos para a neutralidade de carbono na Força Aérea.

A todos os leitores, da ampla e diversificada audiência da Revista de Ciências Militares / Portuguese Journal of Military Sciences, endereço votos de uma proveitosa leitura.

Tenente-general António Martins Pereira
Comandante do IUM

Artigos

Pirataria Somali: de Perigo à Navegação Regional a Problema de Segurança Internacional

Resumo

A pergunta de partida deste artigo está relacionada com o que terá levado a pirataria marítima somali a emergir de “simples” perigo à navegação regional, no Corno de África, a problema de segurança internacional? Barry Buzan, Ole Wæver e Jaap de Wilde, principais teóricos da “Escola de Copenhaga de estudos de segurança”, consideraram, no final do século passado, que um problema de segurança internacional ocorria quando uma determinada
questão era apresentada como ameaça existencial a objetos de referência, exigindo medidas de emergência e justificando ações fora dos limites normais do procedimento político.

Os objetos de referência analisados no presente artigo foram o transporte marítimo internacional, a liberdade de navegação, a segurança de tripulantes de navios civis em trânsito pelos espaços marítimos do Corno de África, a ajuda humanitária às populações somalis e o meio ambiente marinho naquela região. As conclusões mostram que a pirataria somali se constituiu, de facto, como ameaça existencial a todos os objetos de referência supra elencados, o que conduziu à intervenção, sem precedentes, da comunidade internacional, legitimando o uso da força de Estados e organizações regionais como medida extrema para lhe fazer face. 

Palavras-chave

Pirataria marítima; pirataria somali; transporte marítimo; liberdade de navegação; segurança internacional.

Autor(es) (*)

Avatar António Manuel Gonçalves Alexandre
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Gestão de Produtos Químicos numa Vertente de Economia Circular em Contexto Militar

Resumo

O novo plano de ação para a economia circular estimula a adoção de novas práticas de gestão através da inovação ao nível dos produtos, permitindo simultaneamente a redução da procura de recursos naturais com a reutilização dos materiais. Uma realidade refletida na manutenção aeronáutica e no uso que faz de produtos químicos em ações de manutenção planeadas e inopinadas. Este estudo procura propor formas de otimizar a praxis de gestão de produtos químicos na manutenção aeronáutica, numa vertente de economia circular, na Força Aérea (FA). Pauta-se por um raciocínio indutivo, estratégia de investigação qualitativa com reforço quantitativo e estudo de caso como desenho de pesquisa, e baseia-se em dados das entrevistas semiestruturadas conduzidas a 21 experts nestas matérias da FA e das congéneres portuguesas as quais executam manutenção de aeronaves em Portugal. Dos resultados obtidos, concluiu-se que poderá ser uma mais-valia implementar seis medidas associadas ao processo de gestão dos produtos químicos, de onde se destacam a gestão centralizada daqueles produtos nas Esquadras de Abastecimento de todas as Bases Aéreas, a disponibilização das Fichas de Dados de Segurança no portal da intranet, e a criação de um modelo de reutilização dos químicos antes destes serem considerados como resíduos.

Palavras-chave

Logística; produtos químicos; economia circular; manutenção de aeronaves.

Autor(es) (*)

Avatar Ana Luísa Viana de Meneses
Avatar Bruno António Serrasqueiro Serrano
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Potencial de Sequestro de Carbono da Força Aérea: Contributos para a sua Otimização

Resumo

A crescente consciencialização e preocupação com a sustentabilidade ambiental, assim como os compromissos e obrigações legais assumidos por Portugal, e consequentemente pela Força Aérea, concorrem simultaneamente para a necessidade premente de implementação de medidas mitigadoras que permitam reduzir e compensar as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera. Considerando o cumprimento das metas ambientais estabelecidas, esta investigação procura identificar o potencial de sequestro de carbono através da avaliação das emissões de carbono resultantes da atividade desenvolvida pela Força Aérea e da capacidade de compensação dessas emissões pela sua floresta. Para alcançar esse objetivo, foi desenvolvida uma investigação de raciocínio dedutivo, alicerçada numa estratégia de investigação quantitativa com reforço qualitativo e no desenho de pesquisa de estudo de caso. Foi possível observar que, apesar de bastante relevante, a atual capacidade de sequestro de carbono pela floresta ainda não é suficiente para compensar a totalidade das emissões de gases com efeito de estufa, existindo, contudo, potencial para aumentar a capacidade de sequestro de carbono e obter maiores benefícios económicos e ambientais. Os atuais padrões de produção e consumo não se coadunam com um futuro sustentável. O presente estudo procura fazer um diagnóstico ambiental da organização e despertar consciências para os desafios futuros.

Palavras-chave

Floresta; Força Aérea; Neutralidade Carbónica; Sequestro de Carbono; Sumidouro de Carbono; Sustentabilidade Ambiental.

Autor(es) (*)

Avatar Carlos Jorge Ramos Páscoa
Avatar Joana Sofia Guerreiro Pinto
Avatar Ricardo Jorge de Sousa Correia
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Contributos para a Neutralidade de Carbono na Força Aérea

Resumo

As preocupações ambientais da Organização das Nações Unidas vertidas na Agenda 2030 e no Acordo de Paris em 2015, que Portugal ratificou, urgem a que se atinja a neutralidade carbónica até 2050, para reduzir o aquecimento global e as alterações climáticas. A visão estratégica de Portugal, para o cumprimento das metas ambientais pelos diversos setores de atividade, encontra-se refletida no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 e no Plano Nacional de Energia e Clima 2030. Esta investigação visou estudar, identificar e analisar a situação atual do setor de Transportes, para avaliar os contributos para a neutralidade de carbono na Força Aérea, com o objetivo de cumprir com os normativos nacionais e internacionais. Para esta investigação foi utilizada uma metodologia baseada no raciocínio dedutivo, uma estratégia mista e um desenho de pesquisa de estudo de caso. Concluiu-se que a implementação de medidas (por exemplo a digitalização, procedimentos e sensibilização) tendentes a: i) diminuir o consumo de combustível; ii) reduzir a distância percorrida; iii) utilizar biocombustíveis em viaturas compatíveis e iv) substituir faseadamente viaturas de diferentes frotas, por viaturas com 0% de emissões de gases com efeito de estufa, compõem um conjunto de contributos identificados para a neutralidade de carbono na Força Aérea Portuguesa.

Palavras-chave

Força Aérea; Neutralidade Carbónica; Gases com Efeito de Estufa; Energia Renovável e Eficiência Energética.

Autor(es) (*)

Avatar Carlos Jorge Ramos Páscoa
Avatar Carlos Miguel Freixo Calaixo
Avatar Joana Sofia Guerreiro Pinto
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(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.