Editorial
A presente publicação reflete o compromisso e parceria do Instituto Universitário Militar com a Unidade de Ensino, Formação e Investigação da Saúde Militar (UEFISM), e constitui o segundo volume dos "Cadernos de Saúde Militar e Medicina Operacional". Reúne um conjunto de estudos que aludem a evolução e os desafios atuais da Saúde Militar, abrangendo contextos nacionais e internacionais. Estes trabalhos ilustram a interdisciplinaridade e a importância desta área, essencial para a prontidão operacional e para o bem-estar das tropas, seus familiares e, em situações de emergência, da população civil.
A cooperação internacional em Saúde Militar é destacada no primeiro estudo, que relata as ações desenvolvidas pela UEFISM na Guiné-Bissau, entre 2021 e 2025. Esta missão, focada no fortalecimento das capacidades locais, enfatizou a formação e o ensino adaptados à realidade local, consolidando relações bilaterais e projetando um modelo de desenvolvimento sustentável nesta área.
A simulação como ferramenta pedagógica surge como tema central do segundo estudo, que explora o seu papel na formação militar em saúde. Este método, baseado em evidências, é apontado como crucial para a preparação realista dos militares, garantindo segurança e eficácia no aprontamento para missões operacionais.
No terceiro estudo, a deficiência de vitamina D e os desafios ocupacionais na Marinha Portuguesa são abordados, com destaque para os submarinistas. Este artigo chama a atenção para as implicações da deficiência desta vitamina na saúde óssea e no desempenho militar, sugerindo intervenções específicas baseadas numa análise crítica da literatura e no contexto único desta população.
O quarto estudo revisita a evolução histórica da Saúde Militar em Portugal, desde o século XVII até os dias de hoje, propondo uma reestruturação formativa. Argumenta-se a criação de um programa pós-graduado em saúde operacional, que capacite médicos para responder eficazmente às demandas operacionais nacionais e internacionais.
A pandemia de COVID-19 é tema do quinto estudo, que avalia o impacto dos atrasos nos cuidados oftalmológicos, especificamente no tratamento do edema macular diabético. A revisão sistemática apresentada alerta para o agravamento da acuidade visual devido às limitações impostas pela pandemia, propondo intervenções da Saúde Militar em cenários futuros.
Por fim, o sexto estudo reflete sobre a saúde mental nas Forças Nacionais Destacadas, sublinhando sua importância como multiplicador de forças. São apresentadas recomendações para a implementação de diretivas alinhadas com as melhores práticas da OTAN, destacando a necessidade de equipas especializadas e de intervenções preventivas em todas as fases do ciclo operacional.
Este conjunto de estudos evidencia não apenas a complexidade da Saúde Militar, mas também a sua capacidade de adaptação e de inovação diante de desafios globais e locais. Ao apresentar propostas concretas e baseadas em evidências, esta publicação visa contribuir para o desenvolvimento contínuo desta área.
Ana Esteves
Tenente-coronel
Coordenadora editorial do CIDIUM
Artigos

Resumo
Entre 2021 e 2025, a Unidade de Ensino, Formação e Investigação da Saúde Militar participou ativamente em Missões de Capacitação na Guiné- -Bissau, promovendo a cooperação na área da Saúde Militar entre os dois países. Integrando as Forças Armadas Portuguesas e com coordenação do Estado-Maior- -General das Forças Armadas, a UEFISM dedicou-se à formação, treino e ensino com o objetivo de fortalecer as capacidades da Saúde Militar na Guiné-Bissau. Em 2022, esse apoio incluiu cursos, formações e estágios que intensificaram a troca de experiências e consolidaram as relações bilaterais. A recetividade local e o empenho das autoridades guineenses foram essenciais para o sucesso dessas missões, que se distinguiram pela adaptação dos conteúdos à realidade local e pela introdução do Núcleo de Formação em Saúde Militar, além de cursos específicos para combate e emergência. Os resultados até agora permitiram uma base sólida para expandir a formação a profissionais de saúde em hospitais guineenses e planear a futura inclusão de especialidades médicas deficitárias, com possibilidade de sinergias com outras organizações. Assim, a missão portuguesa projeta-se como um contributo essencial para o desenvolvimento sustentável da Saúde Militar na Guiné-Bissau.
Palavras-chave
Capacitação, cooperação, formação, Saúde Militar.Autor(es) (*)


Resumo
Os teatros de operações militares têm passado por mudanças em termos de contexto, perigosidade e táticas. Para enfrentar a realidade geopolítica atual, os exércitos precisam de treinar os seus militares de forma realista, utilizando métodos validados e baseados em evidências. A simulação é uma estratégia pedagógica dentro de um plano de formação militar, que permite mimetizar o ambiente operacional garantindo segurança, realismo imersivo e a possibilidade de repetição das situações. O objetivo do presente estudo é mapear evidências sobre a simulação na educação em saúde militar, no aprontamento para missão, dos militares do Exército. Usou-se o protocolo de scoping review de acordo com a metodologia proposta pelo Joanna Briggs Institute, de acordo com os critérios de elegibilidade e com as bases de dados/repositórios propostos. A análise dos artigos identificados e a sua respetiva relevância, bem como a extração e síntese dos dados foi realizada por revisores independentes. A apresentação de resultados será descritiva, utilizando tabelas, de acordo com o objetivo e o propósito desta scoping review. Foi possível identificar o papel da simulação na educação em saúde militar, durante o aprontamento para missão, dos militares do Exército bem como proporcionar um maior conhecimento sobre a prática internacional da simulação em saúde militar, que permita otimizar o ensino dos militares que se preparam para uma missão operacional.
Palavras-chave
Aprontamento militar, educação em saúde, pessoal militar, treino por simulação.Autor(es) (*)





Resumo
A vitamina D é fundamental para a saúde óssea e a sua deficiência tem sido associada à maior incidência e severidade de múltiplas doenças de outros sistemas orgânicos. A pandemia da deficiência de vitamina D é um problema da Saúde Ocupacional uma vez que o contexto ocupacional é um dos determinantes dos níveis de vitamina D. Os militares estão sujeitos a contextos penalizadores para os níveis de vitamina D, sendo o caso dos submarinistas paradigmático, pelo que se suscita a pertinência de conhecer o respetivo estado de vitamina D. Este artigo apresenta o interesse de abordar o contexto ocupacional naval como potencial determinante dos níveis de vitamina D na Marinha Portuguesa consubstanciado por uma revisão crítica da literatura robusta e abrangente. Esta última debruça-se sobre a importância da vitamina D, suas fontes e produção, bem como sobre a influência do contexto ocupacional, mormente o militar e o da Marinha; aborda ainda as questões da saúde óssea dos submarinistas, a avaliação da Vitamina D e as necessidades de suplementação e fortificação alimentar. O artigo também aflora a metodologia a ser usada nos estudos de campo. Admite-se que a prevalência de deficiência de vitamina D nos militares da Marinha Portuguesa possa ser elevada, tal como a existência de um efeito deletério das missões no estado de vitamina D dos submarinistas. Não obstante, importa aguardar pela publicação dos resultados finais da investigação em curso.
Palavras-chave
Contexto ocupacional naval, submarinistas, vitamina D.Autor(es) (*)


Resumo
A Saúde Militar é essencial para a prontidão das tropas, atuando em prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, não apenas de militares, mas também de suas famílias e civis em emergências. Em Portugal, os serviços de saúde militar remontam a 1660, após as Campanhas da Restauração, quando se percebeu a importância de socorrer e recuperar feridos em combate. Nesse período, surgiram os primeiros cirurgiões militares, e, no século XVIII, com Marquês de Pombal, houve uma modernização da saúde militar. O reinado de D. José I marcou o início da Saúde Naval. Ao longo do tempo, eventos históricos como a Primeira Guerra Mundial, o Estado Novo e o pós-25 de abril impulsionaram a evolução da saúde militar. Atualmente, observa-se a necessidade de uma formação mais estruturada e específica para enfrentar desafios crescentes. Entretanto, não existe um programa pós-graduado específico em saúde operacional, apenas cursos de promoção. Assim, propõe-se uma formação em três níveis, aplicável a todos os médicos, conforme suas funções, garantindo uma resposta eficaz e adequada às necessidades operacionais nacionais e internacionais, alocando profissionais qualificados nos locais e momentos críticos.
Palavras-chave
Formação, medicina militar, saúde militar.Autor(es) (*)



Resumo
A pandemia COVID-19 provocou limitações importantes no acesso aos cuidados de saúde. No âmbito da oftalmologia, essas restrições causaram uma disrupção dos cuidados oculares a nível global, conduzindo a suspensões e atrasos em consultas e cirurgias. O impacto causado por estes atrasos é ainda, em grande parte, desconhecido. Este artigo apresenta uma revisão sistemática que avalia o impacto do atraso do tratamento com injeções intravítreas de anti-VEGF, causado pela pandemia COVID-19, especificamente na melhor acuidade visual corrigida de doentes com edema macular diabético. A pesquisa utilizou três bases de dados bibliográficas (EMBASE, MEDLINE e Scopus), triando artigos até 8 de dezembro de 2022. Após o processo de revisão foram incluídos 9 estudos, totalizando 1049 doentes. Em 7 estudos foi reportado um agravamento da acuidade visual. Este agravamento variou entre os 13,3% e os 55,9%, com um atraso médio entre avaliações que variou entre as 2 e as 20 semanas. Os estudos incluídos sugerem um agravamento da acuidade visual associado ao atraso no tratamento intravítreo. São necessários mais estudos para avaliar o efeito a longo prazo e se o restabelecimento da terapêutica poderá reverter este agravamento na função visual. Após a revisão sistemática, são apresentadas propostas para uma possível intervenção da Saúde Militar no âmbito deste estudo e de que forma poderá intervir em apoio num cenário futuro.
Palavras-chave
Anti-VEGF, doença por coronavírus 2019, edema macular diabético, retinopatia diabética.Autor(es) (*)


Resumo
A saúde mental é uma componente fundamental do aprontamento sanitário dos militares integrados em Forças Nacionais Destacadas (FND). No âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os documentos fundamentais de doutrina nesta área foram recentemente ratificados por Portugal. No entanto, não se verifica uma transposição para a realidade nacional a nível processual ou de diretivas por parte dos órgãos de topo da Saúde Militar (SM). Este estudo engloba uma revisão das melhores práticas clínicas a instituir em saúde mental, com particular incidência na prevenção, refletindo sobre a estrutura militar com competências nesta área e recomenda alterações a adotar pelos órgãos de topo da SM, com vista à produção de diretivas oficiais nesta área e sua implementação. Recorrendo a uma metodologia de raciocínio dedutivo, assente numa investigação qualitativa e no desenho de pesquisa de estudo de caso, conclui-se que a saúde mental é fundamental como multiplicador de forças. O uso de briefings psico-educativos, o papel do Comando e das famílias, e a atuação nas várias fases do ciclo operacional constituem as melhores práticas. Conclui-se também que a nível tático é importante a existência de equipas de saúde mental avançadas e especializadas, bem como algumas mudanças ao nível da organização da saúde mental operacional.
Palavras-chave
Aprontamento sanitário, Forças Armadas, forças nacionais destacadas, prevenção em saúde mental, saúde mental, saúde militar.Autor(es) (*)




(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.